08 novembro, 2012

Casa Agricola




 Eram umas nove da noite quando saí de casa.O frio era tanto que custava respirar,o ar gelado parecia entrar nos pulmões como se fossem pequenas agulhas a perfurar-nos a pele.A noite estava estrelada acompanhada de muito vento, e nem mesmo várias camadas de roupa nos faziam aquecer o corpo.Não sei sinceramente como é que os sem abrigos conseguiam sobreviver durante o Inverno com estas temperaturas, se até dentro de casa fazia frio, como é que eles conseguiam passar uma noite na rua com temperaturas a rondarem os zero graus?A caminho da casa agrícola, bar onde tinha marcado um café com a miúda  ainda passei por alguns cobertos de algumas mantas velhas e algumas caixas de papelão.

Por volta das nove e picos estava à porta do bar, e ou Inês já tinha entrado ou não tinha chegado ainda.Estava demasiado frio para esperar por alguém na rua e decidi entrar e escolher uma mesa.Sentei-me num canto do bar, nuns bancos almofadados e disse que estava à espera de companhia.O bar estava cheio de gente que falava bem alto, a musica de fundo misturada nas conversas provocava um ruído a roçar o insuportável tornando o espaço um lugar pouco desejável para se estar à conversa com alguém.Não fosse um grande grupo de homens e mulheres terem saído uns 10 minutos após eu ter entrado, eu mesma teria ligado a Inês e dizer-lhe-ia para irmos a outro local.

Inês chegou sensivelmente depois.Entrou dentro do bar apressada olhando para todos os cantos onde eu pudesse estar.As roupas dela fazia-me um grande inveja.Trazia um gorro com um padrão vermelho e branco muito engraçado que lhe dava um ar ainda de criança, umas botas de montanha bem quentinhas e um casaco também vermelho.Tive de lhe acenar para ela ver onde eu estava.Quando me viu largou um sorriso de orelha a orelha e dirigiu-se até mim.

- Boa noite Raquel- disse-me cumprimentando com dois beijos na cara e sentando-se ao meu lado- bem está um frio daqueles de matar alguém, não se aguenta andar na rua com este tempo.

- Realmente, está mesmo muito frio, é mais que oficial que chegou o Inverno, o sol de outono já era.O que vais beber?- perguntei-lhe.

- Alguma coisa bem quentinha, preciso mesmo de tirar este frio de cima de mim.

- Gostas de chocolate quente?- perguntei-lhe.

- Claro que sim, qual é a mulher neste mundo que não goste de chocolate? – perguntou-me a rir-se um pouco.

- É verdade sim senhora.Então está decidido, é um chocolate quente para cada uma de nós.
O chocolate quente não tardou em chegar. Bebemo-lo de um trago, tanto era o frio que trazíamos dentro de nós.

- Então Inês  conta-me como é ser universitária nos dias de hoje- comecei por lhe pedir, puxando dedo de conversa.

- a Raquel, foi te disse no outro dia, a universidade está toda mal estruturada, há tantos problemas dentro...
Interrompi-a de imediato não a deixando acabar a frase.

- Ah não Inês, disso já falamos no outro dia.Eu pergunto-me é esses amores.

Ela deu-me um sorriso tímido olhou para a sua caneca de chocolate já no fim e disse-me que amores não eram com ela que a sorte nessa área ainda não tinha chegado perto dela, e que apenas pensava no curso.Eu mostrei o meu cepticismo, dizendo que também outrora já tinha tido a sua idade e não saberia muito bem se acreditava no que ela dissera.A conversa sobre os amores foi se prolongando de tal maneira que sem reparar já a tinha a perguntar-me a mim se alguma vez tinha tido uma grande paixão.

- Grandes paixões- disse rindo-me baixinho- eu não tive grandes paixões Inês, eu tive uma grande paixão.
Ela olhava para mim atentamente com olhos de romântica desesperada, curiosa para saber tudo acerca dessa minha grande paixão.
- Como te disse Inês  foi uma grande paixão, foi, faz parte do passado e está morta e enterrada, os anos passaram e cada um na vida escolheu diferentes caminhos.
- Como é que ele se chamava?- perguntou-me curiosa.
- Carlos, Carlos Mendes.Ele foi a grande paixão da minha vida, e nem eu sei bem o porquê, apenas foi e mais nada, nunca soube bem explicar,mas apesar de tantos anos terem passado eu sei que jamais vou sentir por outra pessoa aquilo que senti por ele- falei de um desabafo só olhando para a caneca e tentando afastar o meu olhar do dela, só depois reparei que estava a expor-me demasiado a uma miúda que eu mal conhecia e calei-me tentando mudar de assunto.
- Faz-me impressão toda essa coisa da vida tomar caminhos diferentes para cada um de nós.O meu tempo aqui na Universidade está prestes a terminar e sinto que isso também vai-me acontecer,essa ideia sufoca-me, o futuro mete-me medo porque é muito incerto.
- Inês  disse-lhe – os verdadeiros amigos, aqueles que são o nosso ombro amigo, não te preocupes, esses estarão sempre lá na estrada da vida- disse-lhe sentido-me realmente quase que a mãe da rapariga e pregando sermões em que nem eu mesma sei se acreditava.
- Espero que isso seja mesmo verdade – disse-me – sinto que ultimamente se não fossem os meus amigos para me apoiarem, nem sei bem o que seria de mim- falou com um ar pesado.
- Que se passa menina? – disse-lhe pousando a minha mão na dela.
- Paixões Raquel, paixões, elas matam os nossos corações.
- Ah, afinal sempre há aí qualquer coisa que não me estavas a querer contar – disse-lhe olhando para ela 
- Acho que podemos discutir isso num próximo café- respondeu-me – agora já está a ficar um tanto tarde e amanha tenho aulas cedo.
Levantamo-nos e dirigimo-nos à caixa para pagar.Eu paguei-lhe o chocolate quente e entretanto ela começou a mandar mensagens no telemóvel para alguém.
Despedimo-nos cá fora,agradecendo pela companhia daquela noite e jurando que a teríamos de repetir.


In, Não Mor(r)o Aqui!

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