23 agosto, 2010

contos da minha infancia

Havia,numa aldeia,há muitos e muitos anos,um sujeito,dono de terras e casas,que tinha o feio costume de nao pagar aos seus criados,valendo-se para isso de habilidades e espertezas.
Um dia,apareceu-lhe um rapaz fino e ladino que lhe trocou as voltas como se vai ver.
- Quanto queres ganhar por um ano?-perguntou-lhe o lavrador.
-Seis moedas de ouro-respondeu o rapaz,que era decidido nas falas.
- Fica combinado,mas com a condição de fazeres só o que te mando.Estás pelos ajustes?
O rapaz estava pelos ajustes e entrou logo ao serviço.Trabalhou o ano todo,sem cometer uma falta sequer.Quase no fim do contrato,o patrao chamou-o:
- Quero um almoço muito leve.Se for pesado,diz adeus às tuas seis moedas.
O criado pôs-se a pensar na malícia do amo e na maneira de trocar-lhe as voltas.Nisto,poisou perto um pintassilgo.O rapaz teve artes de apanhá-lo,meteu-o numa terrina,tapou-a com a tampa e esperou pelo patrão.
Quando ele entrou e viu a terrina,fingiu-se zangado:
- Pois tu não sabes que as sopas são alimento muito pesado para mim?
- Veja bem patrão.Olhe que não são sopas...
O amo levantou a terrina e o pintassilgo safou-se.
Parece-me que não podia arranjar-lhe um almoço mais leve-disse o criado.
O amo calou-se.No dia seguinte,último dia do contrato recomendou-lhe:
- Vais comprar-me cem escudos de arres e cinquenta de ais.
O rapaz ficou um bocadinho atarantado,mas pensou uns tempos e foi ao campo com um saco,onde meteu grande porção de urtigas.Depois comprou laranjas,enfiou-lhes alfinetes com as pontas para fora e colocou-as por baixo das urtigas.
Trouxe o saco para casa e disse ao amo:
- Aqui tem o saco que me mandou comprar.
O amo abriu o saco e meteu dentro a mão.
- Arre! - gritou,sentindo-se picado pelas urtigas.
- Os ais estão mais abaixo- avisou o rapaz.
- Ai!Ai!Ai!- gritou o patrão desesperado,picando-se nos alfinetes.
O criado finório,entao,disse-lhe:
- Como vê,cumpro sempre as suas ordens.
E o patrão,no fim do ano,teve mesmo de pagar-lhe o combinado.


Digam lá que este conto popular não é de mérito?
(adaptado por António Torrado)

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