20 abril, 2010

artigo publicado no jornal Noticias de Lafões // OS DESAFIOS DA MATERNIDADE HOJE



Em conversas com um grande amigo já de longa data, começamos, como tantas vezes, a falar da nossa geração e de como estamos desiludidos com o que se está a passar à nossa volta. Entre comentários como “isto está tudo perdido”, “ o problema é que o pessoal está sem objectivos”, falamos também das repercussões que tudo isto terá no futuro e interrogamo-nos o porquê de toda esta situação.
- “ A culpa é da porcaria do hi5,do facebook e do msn, deixaram as pessoas mais idiotas”
- “ A culpa não é da internet em geral?”- perguntei
- “ Ah, sei lá, a culpa é dos pais !”
Num mundo em que supostamente a internet devia servir para aproximar as pessoas, o que vejo neste nosso mundo ocidental é precisamente o contrário. Vejo filhos cada vez mais separados das suas mães para estarem horas e horas em frente  a um ecrã, vejo mães com falta de autoridade para com os filhos, e para não ferir a susceptibilidade do filhote ,satisfaz-lhe todas as pequeninas vontades, não o fazendo ver que o mundo lá fora, é bem mais difícil.
No ultima edição deste jornal li o artigo de Manuel Silva, “ Que gerações estão a ser criadas e educadas?”,e não podia estar mais de acordo, mas se a geração do inicio dos anos 90 era apelidada de geração rasca, gostaria de saber qual o nome a dar à minha. Sim, porque apesar de rasca a geração anterior tinha certos valores de educação que a minha e as vindouras simplesmente não têm .E de quem é a culpa?
A situação de tudo isto piora quando o filho é chamado à atenção na escola por algo grave, e o encarregado de educação, (maior parte das vezes sendo a figura maternal) em vez de dar uma boa repreensão no filho, ainda vai contra o professor. O resultado disto é que, assim, o menino fica moralmente autorizado, pela mãe, a voltar a cometer o mesmo erro.
Tudo isto também vira uma grande bola de neve, quando se trata a castigos. Penso que o tradicional castigo de dizer “vai para o quarto” já não se aplica. O quarto é o paraíso, tem lá o portátil, televisão, playstation, televisão, leitor de dvd. Dar uma boa palmadinha também já não é moralmente aceite; Os professores também não podem sequer chamar a atenção pois vêem se a braços com os pais; E então a criança torna-se super mimada, dentro de um mundo que ela mesma foi impondo aos pais, que para não se aborrecerem muito com a questão, foram lhe satisfazendo os desejos e caprichos para o ir mantendo calado.
Este tipo de situações passa-se dentro da classe média, onde a mulher tem a seu cargo, não somente os filhos, mas também o peso do trabalho, e mais a tarefa de cuidar da casa.
Todavia, temos também um outro contraste social. As famílias pobres também enfrentam problemas consideráveis para educar seus filhos. Aqui no Brasil, onde estou a frequentar um semestre na Universidade Federal de Mato Grosso, quase 20% dos bebés nascem de mães adolescentes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. E, segundo pesquisas conduzidas por profissionais da saúde pública, filhas de mães adolescentes são mais propensas a também engravidarem precocemente, reproduzindo um ciclo difícil de se romper. Outro problema que surge neste âmbito prende-se mesmo com a vida da mulher nos dias de hoje. O dilema carreira vs maternidade. O feminismo tenta impor, e bastante, que a mulher siga uma carreira de sucesso, que seja independente, e que deixe a questão de ter filhos de lado. Mas, e aquelas que apenas decidem ter filhos, serão consideradas inferiores? Para muitas feministas sim.
Toda esta imposição da sociedade capitalista, repercute-se também no que está a acontecer por todo o mundo ocidental: o declínio gradual da natalidade, e o afastamento das relações entre pais e filhos. As pessoas estão tão focadas em progredir na carreira, que passam mais tempo enfiados dentro de um escritório do que em casa com os filhos. Daí que seja natural, que crianças, e adolescentes se enfiam horas e horas em frente de um ecrã ,e que queimem precioso tempo das suas vidas a ver a vida de outros adolescentes ,que pelas fotografias que apresentam, parecem ter uma vida radiosa, com roupas bonitas, tudo pintado com cores que o computador altera, com comentários coloridos em que sempre está tudo “numa boa”.Tanto é o tempo passado em frente a essa máquina, que mesmo quando a mãe tem algum tempo de sobra para dar uns mimos ao filho, ele rejeita, e refugia-se dentro do seu próprio mundo. Daí deriva novamente o que conversava com o meu amigo, a perda de valores, e burrice dos jovens da minha geração, as mentes vazias…e pior, de quem é a culpa? Vai se culpar a mãe que coitada, dá tudo por tudo para criar o filho, ou culpa-se o filho pela sua frieza? Mas se o filho é mal-educado, a culpa é de quem? E os professores, qual o papel deles? O papel de educação é destinado a pais e não a professores, a culpa não pode recair sobre eles, o pior é que, como já mencionei, muitos pais culpam os próprios professores…Isto é qualquer coisa sem a mínima lógica…
A maternidade é um dos mais belos momentos na vida de uma mulher, mas é evidente que as mulheres mais escolarizadas precisam dividir melhor o tempo que destinam às suas carreiras e aos filhos, e as mais pobres devem ter assegurado o direito a políticas de planificação familiar que lhes permitam gerar seus filhos com dignidade.

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