24 abril, 2010

caixinha de coisas,publicado em Contos Cardeais como "um segredo"

Naqueles tempos costumava caminhar na noite vazia, vinda de um sitio qualquer, geralmente não pensava em nada, era só eu a descer a rua e ouvir o miar dos gatos ao longe. o vento ia me batendo na cara e eu simplesmente tinha um momento de descontracção…com ar jovem e solitária, um certo e estranho poder vindo do eu, sensações muito próprias de cada um de nós…

Era numa destas noites e momentos assim , que recebia sempre um sinal teu, e a paz cessava…a calma dava lugar a uma adrenalina que corria todo o meu corpo, a uma excitação impossível de descrever, e naquele tipo de noite a realidade tornava se surreal.
Sim,os episódios que vivi contigo foram isso mesmo, surreais ,abaladores ,excitantes ,estranhos , agradáveis ,e aconteciam sempre quando menos esperava; Nunca falávamos o porquê de nos encontrarmos, mas sabíamos bem o motivo por detrás de tudo, depois de meias palavras soltas algo se apoderava de nós, e todo e qualquer lado intelectual ou inteligente era deixado de lado…cada vez que percorro a cidade numa dessas noites é impossível não pensar em vivencias anteriores, e sinto a esperança de poder apagar certas coisas e que tudo volte a ser simples, tão simples como foi…

E isto foi fantástico, e maravilhoso, era um segredo só meu ( e é tão bom fazer certas coisas que só nós sabemos),e eu sentia me assim ,a multidão podia passar por nós mas eu ficava alheada de tudo e mais alguma coisa…nunca ninguém me conseguiu dar tanta adrenalina e prazer como tu me deste…E eras um desconhecido, não sabias a minha história ,os dramas da minha cabeça e etc, qual fuga ao quotidiano rotineiro, uma fuga que aparecia tão fugazmente como de repente fugia me por entre as mãos para só voltar a sentir coisas do género tempos depois…mas de facto era isso mesmo que eu gostava, o inesperado, aquele nervoso miudinho tão excitante, o não saber onde estavas e quando estavas..Há em nós humanos um grande fascínio pelo novo, o bizarro, o completo desconhecido ,e o eterno “fruto proibido ser o mais apetecido”.

E falávamos, e rimos e beijamo-nos, e nunca nos amamos, mas sentimos prazer, adrenalina, atracção e fascínio , e da minha parte, um novo e belo mundo entrou na minha vida.
E o tempo foi passando, e as historias mudando, e rimos, e contamos mentiras, e rimos e falamos, falamos cada vez menos, e beijamo-nos ,e continuamos a sentir um enorme prazer…
A excitação e o prazer então acabaram, como tudo assim o é na vida, simplesmente, foi-se…quando se começa a conhecer muito da outra pessoa, a fantasia estraga-se, e somos só dois humanos ,com traumas ,com histórias de vida onde nada se cruzam, com vivencias e idades diferentes, com cismas ,com defeitos insuportáveis, e houve berros de frustração, e houve de prazer…

Mas agora aqui, atravesso esta noite vazia, é tal e qual como se fosse das outras vezes, a diferença, é que não vais aparecer…e eu vou para o meu quarto e deito me nos lençóis brancos, e acabo por adormecer…(será que terminou realmente?)

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