Apenas para esclarecimentos. Quando se começa a escrever um livro a historia inicial que temos em mente é várias vezes diferente ( ou totalmente diferente ) do resultado final. Tanto que o primeiro nome do livro seria " não mor(r)o aqui ", mas depois ao escrever pensei que um final mais bonito e menos chocante, com uma moral mais leve da história e no fundo para dar mais esperança as pessoas, seria mais bonitinho. Depois de ter pensado que tinha acabado o livro agora sim vejo que as 70 paginas em A4 que tinha escrito não eram só mais que uma pequena 'short story', e seguindo os conselhos de um amigo meu, voltei a pegar no livro e realmente eu mesmo verifiquei as enormes lacunas que a historia tem e de como falta TANTA coisa lá no meio que podia enriquecer mais....
Portanto meus amigos, estou de volta à acção.Depois de um ano parada na escrita finalmente vejo as coisas começaram a fluir novamente e a minha vida a entrar nos eixos ( pelos menos no que toca à escrita ). Novas ideias a introduzir no texto final começaram a surgir à medida que lia o livro. Portanto o livro que entretanto tinha mudado numa segunda vez para ' Anjos do Norte' volta a ficar sem titulo definido. Porém, estou na duvida ( e apos as historias secundarias que estou a introduzir no livro ) em definir um titulo. Contudo, estou muito mais inclinada para novamente voltar a colocar ' nao mor(r)o aqui!'
Já escrevi a mais nestes últimos dias cerca de 1/3 da historia toda,portanto podem ver que ando a empenhar-me fortemente em fazer disto alguma coisa mais séria e com mais qualidade..Em baixo fica um pequeno estrato de um capitulo do livro que já foi modificado:
" Passava pela rua de Santa Catarina quando olhou o Majestic vislumbrando bem o interior do espaço. Como já há bastante tempo não passava por ali, aproveitou para entrar no café, sentar-se na melhor mesa e pedir um café.
O Majestic parecia lhe cada vez mais mágico, todos aqueles espelhos do espaço e as mesinhas pequeninas de madeira trabalhada bem como a gentileza dos empregados que estavam sempre bem vestidos, tornavam o espaço apelativo para se estar. Ao estar lá sentia-se viajar também para uma outra época, como se fosse uma mulher de outro século usando vestidos redondos onde o espartilho a faria ainda mais elegante.
Na mesa ao lado estavam duas senhoras já velhinhas, mas muito bem vestidas. Teriam vindo mesmo agora do cabeleireiro, o cabelo estava super bem arrumado e apesar da idade já avançada das duas senhoras,tinham a unhas e os lábios pintados. Deu para perceber que eram já amigas de longa data, falavam animadamente como se há anos se conhecessem, rindo uma para a outra enquanto davam goladas no seu chá que fumegava pelo ar.
«Será que chegarei a esta idade e eu e a Raquel vamos ser assim? Duas velhinhas bonitas com uma vida toda para trás para poder falar e de nada nos arrependermos?» Pensava Helena, enquanto dava o seu último gole na sua xícara de café que a agarrava com as duas mãos para ao mesmo tempo as poder aquecer .
As velhinhas sorriram para ela, como dizendo «está frio». Ela sorriu delicadamente também abanando a cabeça sem nada dizer.
Ao sair, um vento frio correu a rua, deixando por quem lá passasse a tremer de frio. Mesmo em frente ao café estava o desgraçado do costume a pedir uma esmola juntamente com os seus cães esfomeados. Helena achou a cena meia repudiante. Como poderia essa gente estar diante precisamente do Majestic? Alguem deveria fazer qualquer coisa, eles deveriam ir para outro lugar. O que lhe valia pelo menos era morar na foz, não tendo assim que conviver todos os dias com aquele tipo de cenas. Abriu a carteira, vasculhou entre as notas algumas moedas e achando o troco do café tirou uma moeda de um euro e deu-lhe, virando as costas para o mendigo e não olhando mais para trás.
A rua estava cheia de gente que enchia as lojas, mas também estava cheia de músicos que animavam o espaço, um ou dois tocavam guitarra enquanto cantavam, nessa tarde até uma tuna estava na rua a cantar. Mas também havia outros artistas, alguns a fazerem de estátuas vivas e outro rapaz que magnificamente mexia com bastante agilidade uma marioneta grande ao som de uma caixa de música que se encontrava ao lado. Ao lado deste uma grande roda formava-se à sua frente para o verem mexer aquele boneco que parecia que tinha vida própria. As crianças como seria de esperar, eram as mais entusiasmadas com o evento. Riam e davam pulos, algumas alegremente deixavam uma moedinha no cesto que o rapaz tinha no chão. Ele, um rapaz novo, alto e loiro, sorria acolhedoramente. Não deixava de ser incrível como as suas mãos mexiam energicamente apesar do frio que naquela tarde fazia.
Helena continuou a subir a rua até chegar perto da estação do metro do Bolhão, onde na encruzilhada de quatro sentidos, mais uma senhora vendia castanhas e mais uma vez o fumo se espalhava no ar.
- Vai uma castanhinha menina?
Ela apenas abanou a cabeça negando. Caminhou até as escadas rolantes que a transportavam para o subterrâneo ao mesmo tempo que abria a mala e procurava pelo seu passe. Validou a viagem, continuou a descer e esperou pelo metro. Esteve cerca de cinco minutos na estação enquanto esperava o metro com destino a ‘ senhor de Matosinhos’. Havia pouca gente a espera, ainda melhor para ela. O metro chegou, e estava lotado de pessoas. Helena entrou já meia cansada, procurando achar um lugar para se poder sentar, porém em vão. Agarrou-se então a um dos suportes que tinha numa das cadeiras. O metro arrancou, atravessando túneis escuros e frios que de repente a fizeram adormecer e sonhar acordada."
(...) Araci Almeida
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