12 novembro, 2011








A  minha mãe  disse-me um destes dias que me apaixono por viajantes,por homens que estão de partida e que nunca chegam a ser meus,por pessoas que me deixam para segundos planos,ou porque na verdade se calhar gosto do que nunca posso ter.

"Ninguém gosta de sofrer",digo-lhe,"se calhar gosta",pensa ela
Mas não,quem é que ama passar por esse estado de depressão e sofrimento? Acho que ninguém no seu estado completo de sanidade gosta de ter suores frios e de ter medo de perder alguém por quem realmente tem um sentimento de amor gigante,mas aí entro eu.Sim!Porque a maior parte das pessoas desistiria,colocaria tudo numa balança e pensaria o que seria melhor para ela ,ou então nas minhas circunstâncias deixava de andar com rodeios e perguntava-lhe a realidade,aquelas perguntas que tanto quer fazer mas que incomodam,confrontaria a realidade.

Mas é precisamente isso que não quero : a realidade!
Porque estou numa fantasia há muito longo tempo e numa fantasia tudo é como queremos,há musica até,um som de fundo melancolico e romantico que nos faz pensar que tudo está bem,nesta fantasia não ha mais ninguem do que apenas nós os dois e nao sendo a realidade assim,porque nao ser feliz com a fantasia?

A realidade magoa e nao estou para sofrer mais.... Por vezes pergunto-me qual é a realmente o meu papel.Porque a maior parte das vezes parece que estou a viver a vida dos outros e a deixar a minha para trás...

Basta olhar para trás para ver que antes interessava-me mais pela vida dos outros do que propriamente pela minha.A minha historia parece,portanto, somente parcelas de historias secundarias das vidas dos outros onde que nem sequer sou protagonista.Estou no meio das linhas secundarias,nos apartes das vidas dos outros,num qualquer cruzamento ou atalho em que se perderam e me encontraram,mais secundário que isto impossivel...

Uma pessoa quis me impingir um amigo dele no outro dia para cima de mim e até esse ia viajar,foi quando a minha ela referiu a minha atracção ridicula por homens que partam e cujas vidas eu desconheço... Mas eu disse-lhe logo " não estou interessada" ( COMO QUEM DIZ : AMO OUTRA PESSOA)

Ela tem razão e eu nao sei explicar porque assim o sou,mas acreditem,essa fase está passada,ou as idades nao mudassem ou uma pessoa nao crescesse e ficariamos sempre com esse tipo de sentimentos,mas queiramos ou não as coisas mudam,as estações vão mudando e os anos passam e inevitavelmente as pessoas mudam,ficam mais velhas,por vezes mais resingonas e aborrecidas.É inevitável a mudança,seja ela para pior ou melhor.O chato é que eu e o passado estamos sempre de mãos dadas o que é uma grande parvoice,ele nao se muda e estraga o presente pela nossa incapacidade de avançar,o que por sua vez estraga também o  futuro.Se podesse fechar os olhos e imaginar o seguinte : Eu nunca o conheci,nada disto aconteceu e vou ser feliz novamente... Mas isso não se pode fazer,é impossível.

Haja musica,consigo voar para outro planeta é verdade,consigo mesmo...Ela adorava e adora musica,era a minha melhor amiga e também mudou,claro que mudou,ainda bem,eu continuo a única estagnada e sem ninguem por estes lados... As historias parecem ser as mesmas, as personagens é que mudaram.Qual má e péssima novela que jamais teria audiencias. Já nao me suporto ouvir lamentar das coisas más que vao acontecendo,ha uma voz dentro de mim que já nao me suporta, e depois olha para o meu passado e ri-se e diz em voz alta “ olha o que eras e no que te tornaste,nao tens vergonha?”e um eu baixo por entre sombras foge esperando nao ouvir mais isso, como se lhe estivessem a bater.

A vida era tao mais facil quando as aulas acabavam e os amigos se reuniam e apanhavam sol na cara numa tarde fria qualquer de inverno e se riam compartilhando historias,quando usavamos mochilas as costas e quando os dramas romanticos eram uma bobagem fofinha,quando chegavamos a casa e tudo estava seguro,o mundo nao ia acabar,as noticias de crise em nada nos dizia...Porque ambicionavamos tanto chegar à idade actual? É difícil ter liberdade de escolha,as opções surgem como flocos de neve no alto inverno e a nossa capacidade de as escolher é  pouca ou mesmo nenhuma.

Isto de se ser adulta é mais dificil do que parece.O meu primo dizia  um destes dias que nós somos uns desgraçados,porque raio tivemos de ser gente crescida nesta década ridicula... Eu disse para se calar,certamente que se tivesses na casa dos vinte na época da ditadura salazarista queria liberdade,ou então que se imaginasse na Alemanha de Hitler... 

Chegamos  a um ponto estranho,em pequena as imagens futuristas que nos enchiam as revistas de banda desenhadas falava-se em robts,que fariam quase tudo por nós e a nossa roupa seria cinzenta e usariamos coisas ridiculas na cabeça ( acho que alguém veio aos dias de hoje,assistiou um concerto da lady gaga e voltou para trás extremamente chocado),não estamos a usar nada disso,pelo contrário,nao precisamos de robts,nós somos a imagem perfeita deles.
 Gostava de ter um megafone universal e dizer as pessoas : por favor,fechem os computadores,matem a internet  vão para as ruas e tenham interacções verdadeiras.... Toda a gente tem a sua cara algures na internet,todas as suas fotos estão lá para toda a gente ver,todas as informações.. Ou se calhar sou apenas eu,se calhar é mesmo assim,estou a julgar universalmente quando sou apenas que estou a SENTIR-ME assim...

Acho que no fundo tenho medo,muito medo,não é justo o que nos está a acontecer,eu nao fiz nada e eu mesmo sou escrava de tudo isto...Eu não queria morar neste planeta que está a caminhar para a auto-destruição,eu cresci num meio de fantasia diferente de tudo isto,onde o ar era respiravel e eu podia correr com a minha melhor amiga de infancia entre campos interminaveis de flores amarelas e tudo era muito mais feliz. O mundo era então tão mais lento,tão mais bonito e tão menos perigoso.Chegava a casa muito tarde a pedalar na minha bicicleta para depois ouvir um sermão pelas horas tardias,mas era uma boa liberdade num meio pacifico,se me caisse e me aleijasse aprendia que para a proxima talvez era melhor ter mais cuidado.Agora? Estamos todos vigiados, a prender-nos uns aos outros,quer queiramos quer não,por mais que possamos pensar que somos livres,estamos atados por todas as amarras possíveis e imaginárias,como os infarvermelhos do microondas que nao se veem mas que aquecem a comida,assim estamos nós,por cordas,umas mais visiveis que outras,mas somos todos umas marionetas.

Eu não queria ter hoje acordado no meio duma crise,no meio deste caos,não é justo,eu nada fiz e tenho de levar com este peso em cima dos meus ombros,a minha mae sempre me dizia para me portar bem que o pai natal iria me dar um presente,eu nao sei que mal fiz para me terem dado este PRESENTE,um presente angustiado.

Ninguém é feliz,ou será impressão minha? Felicidades rapidas e baratas estão em cada canto,amores que nao sao amores que se confudem com outras coisas estao por todo o lado,nao ha desafios,as pessoas simplesmente se acostumaram com isto,como é possível?

E eu sou como toda a gente,nada faço,escrevo os meus desabafos,e nada faço para mudar. Não quero mais abrir o jornal online,não quero mais e sobretudo ler comentários que todos os dias me parecem iguais,estou deprimida socialmente.... ou se calhar é mesmo e só porque o inverno acabou de chegar com a sua força implacavel.

Toda a minha vida disse que jamais queria ter filhos,mas agora  sonho em ter uns cinco mas depois penso : " Que posso eu dar aos meus rebentos? Um planeta assim?" Não quero que eles vivam tristes,que lhes falte nada,não quero que se sintam presos presos como eu, não os quero ver numa guerra qualquer em busca de água,em busca de ar,num planeta ja sem estações. (Não,não vou ver o Melancholia do Lars Von Trier porque mete-me um medo tremendo e já me bastam os meus temores diários!)

Tenho mesmo pena porque queria ter uns cinco filhos,não interessava os sexos,apenas um bando de pequenada a quem eu mostraria grandes sons desde que estivessem na minha barriguinha até cá fora e formariamos um bando de irriquietos tal e qual como no “ sound of music”. 
Portanto,novamente a fantasia.

Mas naquela altura havia prados verdejantes,havia ar puro naquelas lindas montanhas austriacas... Já é tarde demais,doi tanto ouvir isto,as pessoas são tão lentas para aquilo que todos nós necessitamos e tão rapidas para aquilo que é tao inutil para nós.

Voltando aos amores,será que gosto das pessoas que fogem por me escaparem,por eu nada poder fazer contra essa batalha?


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