20 fevereiro, 2009

Tempos de outrora



Esta música sem dúvida alguma diz muita coisa. Acho que toda a gente entende o significado de todas as palavras que John Lennon canta, mas será que as compreende na sua essência? Ele diz muita coisa, quebra muita muita coisa.No fundo todos dizemos "Ó que canção bonita" mas continuamos o nosso caminho sem na verdade ter prestado a devida e merecida atenção.

John Lennon foi um sonhador e um lutador que acabou por morrer da forma mais estúpida possível. Mas, se virmos bem, todos estes grandes pensadores e reivindicadores com uma mentalidade e com uma visão à frente do seu tempo, acabaram da mesma forma: Gandi, M.L.King, e tantos outros...

É verdade que John Lennon também se insere dentro de um determinado espaço e tempo e que isso influencia claramente aquilo que ele foi durante a sua via. A década de 60 foi um oásis, uma lufada de ar fresco dentro do século XX. Esta década foi um grande virar de página, e contribui para tanta coisa, desde o movimento hippie, ao Maio de 68, a tanta tanta coisa, às lutas revolucionárias. E pensar que os actores de tudo isto foram pessoas como nós, jovens como nós, ou ainda mais jovens do que nós. Tinham realmente uma força incrível para mudar as coisas, e um espírito grande de mudança.
Nós hoje estamos sem duvida a usufruir de todos esses benefícios pelos quais muitos se sacrificaram! E será que damos o valor devido? Sinceramente? Não. Em 2008 comemorou-se os 50 anos do Maio de 68, e numa pesquisa que o Jornal Público fez, grande parte dos inqueridos (isto a estudantes universitários) não fazia ideia do que tinha sido, ou outra parte dizia que sabia mas dizia outra coisa qualquer sem ligação alguma ao facto. Ora, se nem estudantes universitários, que supostamente têm já um elevado intelecto, sabem disto, como o podemos exigir aos cidadãos comuns?

Os valores da década de 60 eram realmente extraordinários, mas claro que também tudo tem que ser explicado dentro do seu contexto, os jovens eram em massa, resultado do baby-boom dos anos 40,as coisas realmente tinham que mudar, era a época de Kennedy, era a guerra do Vietname, era a revolução cubana, uma pulga aos olhos dos EUA, e depois eram as músicas, isto tudo junto tinha que dar em qualquer coisa. E depois lá veio a paz e o amor, as reivindicações, o entusiasmo das massas jovens, os grandes concertos como o Woodstock, lá vieram os Beatles e as suas fãs histéricas, lá veio o seu album Sgt.Pepper qualquer coisa de extraordinário. Fogo! Tanta coisa que se fez não foi?E depois lá veio a década de 70,o inicio da decadência de muita coisa que terminou nos anos 80.Na década de 80 já muita coisa se tinha perdido, as pessoas têm uma memoria incrivelmente curta, e são capazes de se deixar levar pelas modas e pelo sabor dos tempos.
(E claro, deve ter havido muito hippie que nos anos 70 usava calças brilhantes e abanava o capacete nas discos, e quando chegou aos 80 tinha o cabelo comprido de metaleiro e vestia-se de preto. Atenção que eu não estou a criticar estilos de música nem é isso que pretendo transmitir, porque eu própria adoro certas músicas dos Metallica, Guns and Roses, etc, e nesse aspecto os anos 80 foram muito bons)

O que quero dizer é que muitos foram os que deram todas as suas forças para mudar muita coisa, e no fundo tudo isso já se perdeu.Hoje,2009,se alguns desses grandes pensadores fossem vivos de certo teriam ficado muito desiludidos da maneira como vai o mundo. Para mim, também há muita coisa que me desilude, mas o que me custa mais a aceitar, é a indiferença por parte dos jovens da minha geração( e aqueles os que nasceram entre 1980-2000) em relação ao mundo que os rodeia. Nós estamos a passar por tempos também tão conturbados e complicados, dos quais o mundo nunca tinha visto antes (chamo principalmente a atenção mais uma vez para os problemas ambientais do nosso planeta) e o que eu vejo é a total indiferença, o não valorizar,o desleixo, o deixa andar, o "amanha logo se vê isso",o individualismo extremo, mais uma vez a teoria do sapo.

Os jovens agora são cada vez mais apolíticos, sem interesse por nada. Será que isto não foi fruto de uma má educação? Do dar de mais, do valorizar de mais os bens materiais em detrimento dos valores, das ideias, da cultura? Em meu ver deve ter sido mesmo isso, mais uma vez e mais um texto sobre como a nossa sociedade é consumista, e como se valoriza no ter e não no ser, o que leva depois a um mundo de faz-de-conta, a um ser/parecer, a uma falsidade, a uma grandessíssima farsa e estupidez humana. Eu dou graças por ter tido também grandes professores durante o meu ensino secundário, dos quais destaco sem dúvida a minha professora de História, Madalena, e a minha professora de Português Susana G.,o que eu levei dessa aulas principalmente foram aqueles momentos de fala e de discussão da sociedade, esses momentos das aulas é que me fizeram crescer como pessoa e de deram outro ângulo de visão sobre o mundo. A elas estou muito grata, pois fizeram-me construir como pessoa, e não como uma simples humana. Fazendo das palavras de F.Pessoa as minhas “Triste de quem é feliz!/Vive porque a vida dura./Nada na alma lhe diz/Mais que a lição da raiz-/Ter por vida a sepultura.”, “ Sem a loucura que é o homem/Mais que besta sadia,/Cadáver adiado que procria?”(in Mensagem).Isto realmente dá que pensar, um grande Português sem dúvida, um grande senhor e um grande pensador do século em que nasci.

Ora aqui está uma grande reflexão para começar bem o dia, ou para ainda me deixar mais desanimada.(Agora lembrei-me de Ricardo Reis.)
Bem, para quem teve a santa paciência de ler tudo isto, parabéns e obrigada, espero que tenho ficado qualquer coisa dentro dessa mente,e que se junte a mim,como dizia J.Lennon : “You may say that I'm a dreamer /But I'm not the only one/I hope someday you'll join us /And the world will be as one”!


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